Fisiopatologia, do grego phýsis+o+gr páthos+gr lógos+ia, o estudo das funções fisiológicas durante a doença ou das modificações dessas funções que permite a instalação de uma doença física.
Durante a graduação ouvimos muitas vezes o jargão “a clínica é soberana!” Se a clínica é soberana - e é! - então a fisiologia é divina. Conhecendo os mecanismos que levam à doenca (ou à saúde) é mais fácil compreender a cadeia de acontecimentos que leva à alteração que estamos observando na imagem da ultrassonografia.
O organismo funciona como um grande quebra-cabeças. Completo forma uma imagem linda; danifique ou tire uma peça e tenha uma imagem alterada, torta, incompleta.
Por isso sempre avaliamos um paciente por inteiro. Primeiro o visual, a conversa com o tutor ou pai/mãe, a “conversa” com o paciente (levante a mão o veterinário ou a veterinária que troca infinitas ideias com seus bichinhos), a avaliação física e depois os exames.
É aí que tudo começa a se ligar entre si. Seu conhecimento traz à tona a fisiologia ou mesmo a fisiopatologia.
Vamos a um exemplo prático de como as peças do quebra-cabeças se encaixam.
Você está fazendo o exame de um paciente com queixa principal de hematúria. Na bexiga você encontra conteúdo intraluminal pastoso e hiperecóico, com discreta produção de sombreamento acústico posterior e alguns pontos pequenos e hiperecóicos aparentemente aderidos à essa pasta. Você avança para os rins e descobre alterações compatíveis com um processo agudo moderado. Já no estômago, espessamento parietal difuso. No meio do parênquima hepático uma vesícula biliar de parede duplicada e também espessa.
O que está acontecendo aí?
As doenças agudas do trato urinário, especialmente as que envolvem os rins como uma nefrite ou uma pielonefrite, podem causar aumento das enzimas renais como ureia e creatinina. A ureia é particularmente irritante para as mucosas e costuma causar gastrite. A gastrite e mesmo as demais inflamações abdominais podem causar inflamação da vesícula biliar, a infame colecistite, que pode evoluir para colangite e até colangiohepatite.
Tudo isso começou com um “xixi com sangue”. Essa é a mágica da fisiologia. Entender um funcionamento para desvendar outro. Achar uma alteração para ter certeza de que outras lá também estarão.
Essas imagens, de meu acervo pessoal, são de uma paciente da espécie canina, sem raça definida, do gênero feminino, que foi adotada por um casal de amigos. Ela começou com sinais urinários estranhos e a ultrassonografia abdominal revelou a presença do parasita Dioctophyma renale em rim direito. Feita a cirurgia de nefrectomia (remoção do rim afetado) e com o devido tratamento e controle, o rim esquerdo da paciente hoje é sozinho e por isso, grande e volumoso, tudo para compensar lindamente a ausência de seu par.
Parabéns pelo seu belíssimo trabalho
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