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Dilatação gástrica gasosa em um canídeo



Cães de porte grande e gigante são sabidamente propensos a dilatação e ao volvulo (torção) gástrico, que normalmente resulta da combinação de alimentos altamente fermentáveis como os carboidratos e exercícios pós-prandiais. Algumas raças mostram uma tendência mais alta a tais acontecimentos, como o Rottweiller, o Labrador, o Golden Retriever, o Dogue Alemão, o Cane Corso, o Dogo Argentino, dentro outros com conformação física similar (tendência à obesidade e porte grande). 

Essa paciente mostrou-se prostrada e com aumento abdominal visível em região hipocôndria esquerda. Mesmo já havendo a suspeita de dilatação, a paciente estava responsiva e lúcida, daí foi submetida ao exame de ultrassonografia. Vê-se na imagem a parede abdominal seguida da parede gástrica bastante distendida por um conteúdo misto de, especialmente, gases e alimento pastoso. A paciente foi levemente sedada e submetida ao esvaziamento gástrica manual não-invasivo.

A ultrassonografia não é um exame recomendado caso o paciente esteja inconsciente ou em estado de estupor, sendo os procedimentos clínicos de lavagem estomacal realizados com urgência. Muitos casos de dilatação evoluem para a torção gástrica, com consequente deslocamento do baço e possível congestação dos vasos mesentéricos; caso se trate de volvulo, o processo de reposicionamento do estômago deve ser feito cirurgicamente. 

As diferenças básicas entre a dilatação e a torção dificilemente serão notadas no ultrassom, porém um parâmetro é a visualização do baço, que na torção deve estar bastante hipoecóico mesmo em relação ao peritônio. O estado clínico do paciente também deve ser levado em conta, pois na torção propriamente dita, dificilmente o animal estará consciente.

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