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Possível reação ao fio de sutura utilizado em esplenectomia



Muito práticos, os fios de sutura absorvíveis de origem orgânica, como é o caso do catgut (do inglês cattle gut, que quer dizer vísceras de gado), e alguns polifilamentados, podem causar reações alérgicas em certos pacientes mais sensíveis, formando desde um processo de fibrose exagerado até um abscesso de proporções inimagináveis.

Essa paciente sofreu um grave trauma e o consequente rompimento de uma porção do lobo hepático esquerdo e da ruptura total da cápsula esplênica, forçando a realização de um procedimento cirúrgico de emergência para conter os focos de hemorragia interna. 

Uma semana após a esplenectomia radical, esse exame de ultrassonografia foi realizado, mostrando esse cisto trabeculado, bem delimitado e com áreas de fibrose na região onde antes estava o baço. A imagem condiz com a possibilidade de se tratar de uma reação alérgica ao fio de sutura utilizado, já que a paciente em questão é bastante jovem - menos de 1 ano de idade - e não tem histórico familiar de doenças neoplásicas. O fato do aparecimento de tal alteração ter se dado em tempo tão próximo à cirurgia é também outro indicativo de não se tratar de uma lesão de caráter maligno. Casos assim sempre devem ser acompanhados posteriormente com exames cuidadosos envolvendo mensuração da massa, em intervalos adequados conforme o histórico do aparecimento de tal formação. 

Em casos em que o histórico é desconhecido e o animal é mais velho do que 2 anos de idade, deve-se ser cauteloso quanto ao prognóstico macroscópico e um exame microscópico deve ser realizado com máxima urgência, pois tal aparência de imagem pode sugerir um possível hemangiossarcoma.  

Esse tipo de imagem deve ser levado na mente do ultrassonografista veterinário para o caso de se deparar com algo semelhante próximo ao coto uterino no pós-operatório recente de uma ovariohisterectomia (OSH). Estudos também indicam que animais jovens submetidos à esplenectomia parcial ou total podem apresentar áreas de reimplantação espontânea do tecido esplênico, especialmente na rede mesentérica. 

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