Pular para o conteúdo principal

Ultrassom de uma tigresa (Panthera tigris)






A Panthera tigris ou tigre é um felídeo de grande porte que habita principalmente a Rússia, Sibéria, Irã, Cáucaso, Afeganistão, China, Índia e algumas ilhas como Sumatra, Java e Bali. Muitas sub-espécies estão extintas ou em risco eminente de extinção, por isso, deparar-se com um espécime no Zoológico é um grande privilégio. Este mamífero é considerado o maior felino dentre todos (300 kg em média), possuindo presas de até 10 cm de comprimento e garras de 8 cm.

Esta paciente pertence ao Parque Zoológico de Curitiba, e tem aproximadamente 18 anos de idade e peso aproximado de 340 kg. Sendo uma fêmea inteira, nulípara e solitária, o exame ultrassonográfico tinha por objetivo avaliar a cavidade abdominal a fim de procurar por evidências imaginológicas que confirmassem a suspeita de piometra, suscitada devido à hiporexia, apatia e sensibilidade da paciente. 

Note que as imagens sugerem esplenomegalia, uma vez que é possível observar a extremidade caudal do baço tocando na bexiga urinária. Animais de zoológico normalmente apresentam essa alteração, que pode advir do fato de ficarem expostos constantemente a altos níveis de estresse psicológico, o que pode levar a um mimetismo de hiperadrenocorticismo, à parasitose intensa devido à dificuldade de manejo de espécies perigosas ao seres-humanos, e até mesmo à  anestesia em que estão submetidos durante o exame ultrassonográfico. É importante estar atento à ecotextura e a homogeneidade do parênquima esplênico e hepático. 

Quanto ao útero, pode-se observar a presença de conteúdo misto predominantemente hipoecóico em seu lúmen, irregularidade e hiperecogenicidade de camada mucosa e espessamento parietal. Esse conjunto de imagens confirma a suspeita alteração uterina sugestiva de piometra/hemometra/mucometra (a ultrassonografia não é capaz de identificar a natureza do conteúdo), recomendando-se a ovariohisterectomia.

As alterações uterinas não são comumente observadas em pacientes da espécia felina devido às particularidades de seus ciclos reprodutivos como a ovulação induzida pelo coito. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Alterações esplênicas em cães

As alterações esplênicas em cães normalmente são avaliadas de maneira subjetiva pelo ultrassonografista, já que existe uma variação de porte do paciente bastante grande. Ao contrário da esplenomegalia em felinos, que pode ser observada pelo aumento longitudinal do órgão, esta afecção em cães é comumente constatada pelo aumento transversal do mesmo.  Muitas são as causas da esplenomegalia, sendo importante destacar as hemoparasitoses, as parasitoses intestinais e epiteliais severas e as doenças endócrinas como hipotireoidismo, hiperadrenocorticismo e diabetes mellitus.  Além do tamanho, o ultrassonografista deve estar atento à ecogenicidade esplênica, que de acordo com o macete "My Cat Loves Sunny Places" (M=medulla; C=cortex; L=liver - fígado; S=Spleen - baço; P=prostate) deve ser discretamente mais hiperecóica que o fígado e um pouco mais hiperecóica do que a camada cortical dos rins.  Outro aspecto importante é a ecotextura deste órgão, s...

celularidade na bexiga urinária

Nessa foto podemos observar perfeitamente a bexiga urinária, muito cheia, formando um globo anecóico, ilustrando o que se chama de "bola de natal", pois a semelhança da imagem com o brinquedo é inegável. Os pontos hiperecóicos observados flutuando em meio ao líquido (anecóico) são os debris celulares ou pequenos cristais de oxalato ou estruvita ou até mesmo coágulos (a distinção de um ou outro é muito sutil, mas costumo dizer que os cristais são mais "brilhantes" em relação às outras possibilidades e os coágulos os mais hipoecóicos relativamente. Quando maiores, os cristais ou estruturas calcificadas causam a formação de sombra acústica). Para se obter essa imagem deve-se fazer a manobra de balotamente da bexiga, que consiste em posicionar o transdutor sobre a mesma fazendo movimentos rápidos de modo a chacoalhar o abdômen e consequentemente o conteúdo intravesical, levantando possíveis materiais sólidos.. Neste caso os cristais eram de estruvita, mais comu...

Piometra de coto uterino - algumas apresentações

As imagens acima foram obtidas em exames ultrassonográficos diferentes de algumas pacientes da espécie canina; elas representam algumas formas de apresentação da afecção infecciosa de coto uterino. Note os tamanhos variados de coto, a quantidade e as ecogenicidade e ecotextura variadas.  Esse é um quadro mais comumente observado em paciente da espécie canina e normalmente os sinais aparecem poucos dias após a ovariosalpingohisterectomia (OSH). A explicação para esse acometimento para estar na frouxidão do miometro previamente dilatado pela gravidez, piometra ou cio, combinada ao excesso de tecido uterino deixado pelo cirurgião. A existência prévia de piometra não é um fator totalmente predisponente à formação de piometra de coto uterino, porém pode ser um agravante.